domingo, 21 de maio de 2017

Um encanto, muitos desencontros e alguns contos.


Capitulo 1: A menina, a Pérola e a Bolinha.




Eram vizinhas, mas se conhecer mesmo, só se conheciam de vista. A menina, gostava de ficar observando o mundo através de uma janela que ficava no seu quarto. Um muro, cobria a vista da janela pela metade, o que ela até achava bom. Assim, ninguém do outro lado invadia os pensamentos dela. Da metade para cima, só aparecia mesmo era as pontinhas do cabelo de uma árvore, e o céu, que ela encarava por horas.

O que ela gostava mesmo era de admirar o céu, principalmente ao entardecer, e a noite: O muro, o cabelo-da-árvore, e a janela, serviam como uma moldura para ela observar as estrelas. Já durante o dia, quando o sol estava forte, melhor mesmo era fixar o olhar para baixo, ou para o lado, e a distração passava ser acompanhar o dia-a-dia da casa da Bolinha.

A casa da Bolinha era muito pior do que a casa da menina. Era simples, velha, pequena. E ainda por cima, a Bolinha tinha muitos irmãos, e todos eles dividiam aquele pouco e precário espaço com ela. Era um cotidiano curioso. Todos estavam sempre juntos, eram contentes e calmos na grande maioria do tempo. Algumas vezes só que a menina acompanhava algumas cenas cinematográficas de “auuus” dramáticos, geralmente quando a mãe ousava se afastar por muito tempo.

A mãe dos filhotinhos aparentava ser uma senhora, sem muito apego nem muita vaidade, sua vida parecia se resumir a um enorme e visível amor pela sua cria. Tinha uma espécie de simpatia serena, e um olhar infinitamente mais bonito que formato ou a cor do seu olho. Os seus cabelos ainda carregavam tons do dourado natural, só que bem acinzentados, fraquinhos cobrindo as peles que já sobravam sobre o corpo, a menina chamava ela de Pérola.

Certa noite, a menina, que já dormia há algumas horas, começou a ouvir um choro alto e melancólico. Um som que entrava pelas frestas da janela, inundava o quarto com vibrações de tristeza, e ainda mergulhava nos ouvidos da menina, que demorava para perceber se estava sonhando ou acordada.

De repente, em um susto, ela acordou. Pulou rápido da cama para confirmar o que era, de onde vinha, e por que daquela melodia tao triste. Se cobriu com a primeira roupa que apareceu na frente no corpo, e saiu correndo para ver o que estava acontecendo. A medida que a menina se aproximava de todo aquele desespero, seu coração começava a bater com uma força tão grande, que ela só rezava para não lhe faltar coragem para ajudar. Era tão desamparado, que por mais que a menina não soubesse muito bem como ajudar, ela continuava com os passos firmes e determinados a fazer alguma coisa.

Estava tudo escuro, e a menina finalmente viu, um cachorrinho, caminhando estéricamente de um lado para o outro, desorientado, chorando com toda a força que aquele peito minúsculo poderia esbravejar, berrando para quem pudesse ouvir a profundidade da dor que aquele ser sentia. A menina, tentou imediatamente se aproximar, mas o cachorro latiu, acuado, com medo do que ela poderia fazer com ele. Ela então se abaixou, e começou a falar baixinho: _Vai ficar tudo bem. O cachorrinho reconheceu a sua voz, e se aproximou quando ela estendeu a sua mão.

A menina, que havia superado a primeira insegurança, agora pegava aquele cachorrinho e o carregava com todo cuidado, imitando a maneira como a sua mãe costumava lhe carregar. Com um dos braços, ela envolveu o solitário ser, e com a mão que lhe restou, ela tentava organizar os rodeios que aquela coisinha dava, rodopiando e tentando enfiar a cabeça na dobra do braço da menina.

Era uma coisinha. Mas era forte, e gordinha. Uma bolinha! Tinha uma bundinha cheinha e redonda, tanto que, quando ela conseguiu enfiar a cabeça dentro do braço da menina, a bunda entalou. Mesmo assim ela manteve a cabeça lá dentro do braço, como se assim conseguisse fugir, como se conseguisse finalmente se esconder daquela dura e triste realidade. Inflava e murchava, soluçando de tanto chorar. A menina continuava fazendo carinho, tentando mostrar solidariedade e conforto, sentia que aos poucos os soluços iam diminuindo, até que finalmente se transformaram em uma grande respiração longa, de alívio.

Alívio para a menina também. Que com uma conversa e um carinho improvisado, conseguiu transmitir paz, confiança, para a bolinha que enfim começava a levantar o rosto em direção ao dela, querendo olhar, conhecer, interagir.

Encontraram a Pérola não muito longe dali, que parecia muito fraca, e para a surpresa da menina, também estava sozinha. A menina ficou indignada com a indiferença daquela mãe, mas uns minutos depois de encontrá-la a indignação se transformou em pena. Aquela senhora já bem debilitada da idade e com tantos filhos, estava sozinha e parecia exausta. A menina acabou não dizendo nada e apenas soltou a bolinha de encontro a ela.

E a Bolinha, olhava um pouco para a sua mãe, um pouco para a menina. Voltou em direção à menina, mas não por que queria novamente voltar aos seus braços, mas sim para lamber os seus pés. Pulava toda enrolada e descompassada, rebolando o rabinho da bundinha redondinha. Assim que a menina fez um último carinho, ela então se ajeitou ao lado da sua mãe e a menina voltou a dormir.

No dia seguinte, nenhum sinal dos irmãos. Apenas Perola e a Bolinha. Que a menina só então descobriu que era uma fêmea, e o nome Bolinha passou a ser perfeito. Mas também descobriu que os irmãos dela, os filhos da Pérola tinham sido todos vendidos. Só tinha sobrado a Bolinha, que talvez ficaria para substituir a Pérola que estava muito doente.

Os sinais da sua doença, a cada dia que passavam ficavam mais intensos. Feridas e falhas por todo o corpo começaram a aparecer e aumentar, o seu olhar também só demonstrava dor. Para a menina, o problema da Pérola era que ela estava muito deprimida, mas para os demais, o que ela estava mesmo era muito velha.

Por isso, afastaram também a Bolinha de sua companhia, por que a gordinha só queria saber de mamar. E como ela já estava crescendo, pareceu ser o motivo que impedia a Pérola de conseguir se recuperar. A menina, sabotada pela pouca idade, por mais que defendesse a sua posição não tinha chances contra uma indicação veterinária, e só pode mesmo assistir a depressão da Pérola corroer o ainda mais a pouca saúde que lhe restava.

Deitada no gramado, afastada da casinha, a Pérola passava agora os seus dias com o olhar fixo para o céu. Como se estivesse refletindo sobre aqui, e sobre lá. Analisando cuidadosamente suas possibilidades que iam se resumindo entre ir e ficar. Ela fixava o olhar no céu, que nublado era uma tela cinza perfeita para pendurar as suas memórias, e se entregar a elas, deixando qualquer decisão para depois.

A menina, na janela, sofria junto com os seus suspiros, conseguindo espiar somente o rosto distante da Pérola e suas divagações. Além disso, ela também sentia o tédio e a saudade que aqueles filhotinhos despertaram. Ela buscava alguma forma de quem sabe amenizar aquele dia tão nostálgico, e teve a ideia se ir conversar com a Pérola.

Ao se aproximar da velha senhora, percebeu que a imagem seria mais difícil de encarar do que ela havia imaginado. Sua pele agora tinha pedaços de carne viva amostra. A sua boca borbulhava uma espuma que lhe dava ares de louca. Moscas rodeavam o seu corpo fraco, abandonado. Pousavam em seus seios, nas orelhas, nas feridas. A menina abanava as mãos ao seu redor, tentando espantar aqueles insetos-abutres da sua amiga, que não se assustava com os seus estapeamentos, assim como também não demonstrava irritação ou incomodo em ser prato de jantar de mosquito. A sua dor era infinitamente mais íntima.

A menina então começou a conversar com ela, fazendo carinhos em suas orelhas e por onde ainda existia pele, falava que sentia muito sobre o que havia acontecido, que também adorava muito todos os filhotinhos, que também sentia saudade deles, e que eles eram uma família muito especial. O rabo da Pérola timidamente começou a balançar, demonstrando para a menina que havia gostado do elogio. Que continuou o discurso de amizade sincera decidindo resolver as diferenças entre elas, e comentou que no dia em que a Bolinha chorou, ela não entendeu por que a Pérola tinha se afastado, mas que agora tudo fazia sentido, e que ela foi uma ótima mãe, com muita sabedoria.

E começou a pedir desculpas, por ser tão incapaz de poder ajudar mais. Pela raça das pessoas não ter a mesma inteligência sentimental e sensibilidade. Pedindo para que a Pérola entendesse que não se tratava de maldade, mas sim de ignorância a forma como o destino de todos eles foi construído.

O Rabo balançava muito rápido e a Pérola demonstrou uma súbita reação para essa parte do discurso. A respiração ficou alta, forte, mas o corpo já não suportava acompanhar os impulsos da sua expressão, da boca espumada, saiam bolhas de ar que escapavam pelas bochechas. A menina ficou apavorada, achando que tava atrapalhando mais do que ajudando, e decidiu rever seus planos.

Convicta com o seu propósito. Notou que a decisão da Pérola de ir ou de ficar já não estava mais em suas patas.

E a menina, tudo que tinha eram as suas palavras. Começou a pedir calma, e dizer que ficaria ao seu lado. Buscou um lençol velho dentro do seu quarto e cobriu o corpo machucado para afastar as moscas. Começou então a falar sobre o céu, sobre como ela também gostava de olhar as estrelas. Disse que acreditava, que lá no céu, inclusive, em breve seria a sua nova casa, muito melhor do a pequena e velha de hoje. Que se ela pensasse nisso, ia perceber que aquele era o portão do paraíso. E se surpreendeu com o sentido do que dizia, como se tivesse ficado para ela própria o dever de abrir esse portão.

E assumindo a sua momentânea divindade, seguiu explicando que lá tudo era bom, que suas dores seriam curadas e os problemas solucionados. E ainda sugeriu que já que só lhe restava esperar, o melhor que ela poderia fazer era aproveitar essas horas e purificar o seu coração. Que a vida era infinita, assim como todo aquele espaço que elas podiam ver acima delas, e que ela podia ficar tranquila que sua existência, e também que as lembranças da sua família ficaria registrada por toda a eternidade.

O semblante no rosto da Pérola melhorou, embaixo do lençol branco de flores, olhando o céu. A menina, já sem mais o que dizer, nem mais o que fazer. Seguiu um pouco mais ali ao lado e logo foi chamada para voltar para sua casa. Mas ainda dentro de casa, a menina seguiu o plantão pela janela, até que adormeceu.

No meio da madrugada ouviu uns passos e latidos. Abriu rapidamente a janela e viu a Pérola, em pé, como se estivesse boa.

A menina então ficou maravilhada com o resultado da sua ação, no fundo, ela tinha certeza desde o início quanto ao seu diagnóstico, só pudia ser depressão! Tudo bem que ela realmente não entendia sobre medicina animal, mas isso era uma prova que ela entendia o que os animais tinham a lhe dizer. Encheu o peito de orgulho e esperança, e voltou a dormir, sonhando acordada com tudo que ela ainda poderia fazer com esse dom.

Quando acordou, recebeu a notícia que a Pérola tinha falecido, naquela madrugada. A a vez de chorar e explodir suas angústias, agora foi da menina. Se perguntava o por que então daquela aparição na noite anterior. Se era real ou se foi um sonho que veio para lhe confundir. Como que de madrugada ela parecia tão recuperada e pela manhã seguinte aparece uma notícia dessas?

A menina então lembrou da Bolinha, que lambeu seus pés em agradecimento quando ela a "salvou" da solidão, e concluiu que a fonte da educação daquela fofinha era uma educação familiar. A aparição da pérola foi uma despedida, um agradecimento de alguém que quem sabe, tenha encontrado algum tipo de salvação.

***


Capítulo 2: Nem tudo é o que parece.


A janela do quarto já não tinha mais a mesma graça. Agora as mudanças mais interessantes aconteciam dentro da menina, que afinal já não se sentia mais uma criancinha, completamente boba ou indefesa, mas sim alguém capaz de cuidar de outro alguém, de superar os seus medos, seus limites.

Ela estava crescendo. Mas o amadurecimento passava a ter um gosto amargo, quando ela olhava para a casinha ao lado da janela do seu quarto, e lembrava que não tinha sobrado ninguém. O destino era simplesmente soberano. E ela, só uma menininha que começava a aprender sobre tudo. Deitada em sua cama, olhando para o teto. Em alguns momentos ainda chorava, seja pela confusão que estava a sua cabecinha infantil, ou pela explosão de sentimentos que a sua saudade ainda despertava. Ela estava de luto, imersa em sua nostalgia.

Pensava que o desânimo era um sintoma da sua tristeza. Mas, do nada, apareceu uma tosse. Acompanhada de uma febre que foi ficando cada vez mais forte, deixando o corpo dolorido, cansado. Em seguida, começou a brotar uma espécie de gosma que saia pelo seu rosto, por todos os lados. E para piorar, havia também uma bolha, que parecia ter ido morar um pouco atrás da garganta, e que não saia, por mais que ela insistisse em tossir. A bolha continuava ali, e para piorar ainda mais, começou a produzir outras bolhas, que produziam outras bolhas, e ficavam como refrigerante entalado no meio do pescoço.

A menina, que já estava suficientemente apavorada com a doença, arrepiou mesmo quando aquilo, começou também a roubar a sua voz. Ela falava, e ao mesmo tempo, uma segunda voz rouca e gasosa começava a falar junto, ao fundo. A menina já estava quase concluindo que essa tal de gripe era um tipo de invasão alienígena, invadindo os corpos das pessoas, roubando até as vozes. Até que uma súbita lembrança cruzou com os seus pensamentos, a Pérola.

No dia anterior ao da sua morte, Pérola estava com a boca borbulhando bolhas de ar, bolhas que pareciam também comprometer a sua respiração, bolhas que também tinham tomado a sua voz, e que também criavam novas bolhas a ponto de transbordar pela sua boca.

E mesmo sem entender nada de medicina, queria confirmar se o que tinha era o mesmo que a Pérola teve, e revirava sua memória dos momentos que passaram juntas quando um novo trecho de memória apareceu: No dia em que os filhotes da Pérola tinham sido vendidos (menos a Bolinha), a menina lembrou, que ao procurar os filhotinhos pelo pátio, a Pérola veio em sua direção, e a empurrou levemente com o corpo. Com o impacto, uma gota de saliva escorreu da boca da Pérola e caiu bem encima do pé da menina. Que agora se perguntava se não havia sido de propósito.

A Pérola já não era mais uma menininha boba há muito tempo, ela entendia muito bem das coisas, além disso, ela devia ter muitas mágoas em relação a espécie humana, e estava muito deprimida. Talvez ela já soubesse que iria ter que se separar dos seus filhos, quem sabe esse não teria sido o motivo de deixar a Bolinha sozinha, na madrugada em que a menina, até a pouco, pensava que teria sido uma heroína. Talvez, também por isso, que a Pérola tenha ido até a janela latindo, tao determinada, para demonstrar que sentia muito, para se desculpar. Sua mãe bem que disse que a Pérola estava doente, e talvez por isso que ninguém se aproximava. Talvez por isso que ela tenha morrido sozinha. Quem sabe a causa da morte da Pérola não tivesse sido realmente depressão, e sim, que ela estava muito doente de gripe.

E os olhos da menina se estalaram, e surpresa, notou o quanto poderia estar errada sobre tudo, percebeu a existência de um novo lado da hitória, e deu de cara com uma nova possibilidade: Poderia ter sido ela vítima de uma vingança da Pérola.

Vingança que ela, a Pérola poderia ter planejado contra a menina, que afinal é a cria dos humanos, que haviam roubado os filhos dela. Lembrou ainda que oficialmente elas ficaram amigas depois dessa cena da gota-de-saliva, quando a Pérola já estava em seu leito de morte.

A menina sabia que estava com muita febre, e se perguntou se não era a gripe que além de levar sua voz não queria também tomar seus pensamentos. Afinal essa versão nova da história estava somente lá, nos pensamentos.

E a menina sabia, por mais que a Pérola tivesse feito propositalmente, ela, com certeza, se arrependeu depois. Por que ela foi, horas antes de morrer, até a sua janela, latiu até que a menina abrisse, e a olhou diretamente nos olhos. E os seus olhos refletiam esperança, bondade. Como entender a loucura dos desencontros que o destino dá?

A menina se recuperou. Os pensamentos ruins, a febre, a ronquidão e as bolhas, tudo foi embora. E dessa companhia a menina não sentiu nenhuma falta. Saudades mesmo, ela tinha era da Bolinha, que talvez nem tivesse mais esse nome, que talvez nem se lembrasse mais da história delas de amizade. Que ela não fazia a menor ideia onde estava. Até que, um belo dia ao acordar, e o destino soberano novamente decidiu fazer uma surpresa, e que surpresa maravilhosa. A Bolinha simplesmente estava de volta!


***


Capítulo 3: A felicidade é um ponto de vista.


Amanhecia cinza, quente e silencioso. Cenário perfeito para mais um dia qualquer de preguiça. Tudo estava calmo e quieto, até a menina ouvir o barulho dos passos da sua mãe, leves e apressados revisando as suas tarefas diárias, indo de um lado para o outro, meio desorientada, mas sempre com um tempinho reservado para passar no quarto dela e acordá-la com um beijinho. A menina, virou para um lado, depois para o outro, e se esquivava pra acordar. Mas abriu os olhinhos para encarar os da mãe. Adorava quando isso acontecia, era o encontro de olhares mais doce que ela já tinha visto, e o mais próximo também.

A mãe arrumou as cobertas para garantir que a menina estava bem empacotadinha, e saiu. A menina, aproveitou um pouco mais aquele conforto, mas em seguida saltou da cama, assim que ouviu o primeiro latidinho fraco, desafinado, e atrevido, que subitamente preencheu toda aquela singela solidão. Um único latidinho, esganiçado, que parecia até ensaiado, para não errar, para deixar bem claro o seu recado. Que a menina entendeu, e na mesma hora sentiu um calafrio disparar do coração, que batia forte e apressado, tinha certeza de que era a Bolinha.

O próximo barulho que a menina ouviu foi o da porta da casa abrindo, e em seguida, fechando. Depois disso, silêncio de novo. A menina abriu a janela do seu quarto, olhou para um lado, para o outro, pra cima, pra baixo, e não encontrou nada. Só o som de uma conversa distante. Tomou um impulso, e saiu correndo pela casa, até encontrar a direção da conversa. Queria descobrir quem era, o que diziam, e se era mesmo a Bolinha quem estava junto. Chegou até porta da-saída-da-frente da casa, e ali ficou, a porta estava trancada. Não encontrou a sua mãe para pedir que abrisse a porta, e também não encontrou uma chave para abrir sozinha, então correu até a janela mais próxima, e esticou o corpinho o máximo que pôde, em busca de respostas. Não viu sua mãe, não viu a Bolinha. Viu apenas duas mulheres, que sorriam e falavam sem parar. Mas que não falavam uma para a outra, falavam ao mesmo tempo, e falavam viradas para uma terceira direção, que a visão da menina não conseguia alcançar.

Ansiosa, a menina observava os segundos passarem em frente aos seus olhos, segundos que ela não queria gastar olhando para aquelas mulheres, mas sim gastar para rever a sua amiga. Mostrar a felicidade que estava em reencontrá-la, comemorar aquele fenômeno de dois destinos se cruzando novamente, de dois desejos se realizando, era mágico! Ao mesmo tempo que refletia sobre isso, olhava para si, e via o chão mais perto, depois via o chão mais longe, várias vezes, como se tivesse fazendo um grande "bate-aqui" com o mundo todo, pulando de um lado para o outro. A menina estava tão emocionada que o seu corpo fazia gestos que ultrapassavam o seu controle. E com uma dança doida ela agradecia, comemorava, sorria.

Mas com os ouvidos sempre atentos àquele ruido da conversa, que não conseguia identificar o assunto, ou descobrir para quem as duas mulheres falavam. Ainda por cima elas falavam pra dentro. Quem sabe para não acordar quem ainda estivesse dormindo, mas uma segunda possibilidade pareceu mais atraente para a menina. Desejou com todo o seu coração que a sua mãe tivesse saído de casa para lhe preparar uma surpresa. E começou a repetir por favor, por favor… Olhando para o céu, pedindo para Deus, para a Pérola, para quem quer que ouvisse o seu desejo.

E ao lembrar da Pérola, uma vergonha súbita tomou conta das suas emoções. Olhou novamente para si, e percebeu que era um fracasso. No fim, não tinha conseguido ajudar a ninguém, e ainda teria que explicar o que aconteceu com a Pérola, a sua mãe. Frustrada, sentiu como se o seu rosto caísse sobre os seus ossos, os segundos mágicos haviam passado. Igual ao ruído da a conversa que ela já não escutava mais. Quando finalmente a sua mãe voltou, trouxe as compras do mercado e notícias.

Contou que encontrou a vizinha no caminho e que eles tinham adotado uma das filhotinhas da Pérola. Pareceu até jogo sujo do destino. Um desfecho que bateu na trave. A menina, que já imaginava ter motivos suficientes para exercitar a sua humildade, agora, teria ainda que assistir a Bolinha “ser” de outra pessoa. Receber uma educação diferente da que tinha planejado, sem nem poder se intrometer. Os olhos da menina ficaram cheios d’água, mas sua mãe continuou o discurso de sentença, avisando que se a menina quisesse brincar com a cachorrinha podia ir, desde que recebesse permissão. E que elas poderiam brincar no pátio que ligava as duas casas, mas que a menina não poderia deixar a cachorrinha entrar dentro de casa.

Se por um lado a menina ficou completamente contrariada, por outro, era um alívio para ela saber que estava tudo bem com a cachorrinha, que mesmo que de longe, ia poder vigiar ela e defender, caso alguém a fizer mal. Elas estariam perto, cresceriam juntas, seriam amigas.

Depois quando finalmente se encontraram, a menina ainda se sentia envergonhada. Estava desajeitada, sem saber muito bem como agir, o que dizer, até onde ir. A Bolinha pareceu desconfiada, afinal aquela situação devia ser tão curiosa para a menina quanto era para a cachorrinha. Que de repente estava de volta. A menina então se aproximou e tentou lhe fazer um carinho, mas a Bolinha respondeu com uma mordida. Uma mordida leve, sem pretexto de machucar, mas de reclamar. A menina então se sentou ao lado dela, e disse que ela não era capaz de descrever a alegria em vê-la de novo, que sentia muito pela morte da sua mãe, e que ela e a sua mãe haviam conversado muito assim que ela desapareceu, e que sentia muito por não ser capaz de ajudar em muita coisa. Mas que ela e a sua mãe tinham se tornado amigas, e que ela desejava muito ser amiga da Bolinha também. E que faria tudo que pudesse para cuidar dela, mesmo que esse tudo não fosse muito. Seguiu contando sobre o que havia conversado com a Pérola. E afirmou sua certeza de que agora a Pérola descansava em paz.

Em seguida explicou a situação que elas se encontravam naquele momento, e que teriam que respeitar algumas regras: Pediu que a Bolinha ajudasse a fazer com que elas pudessem conviver o máximo de tempo possível. Que buscaria uma maneira de se transformar em sua dona, mas que agora ia precisar que ela se acostumasse com o seu destino, assim como a menina também faria.

No começo da sua volta, a rotina da Bolinha era só comer, dormir no sofá da sala (da vizinha), brincar, morder dedos, morder brinquedos, ser criança. Quando não estava recebendo atenção na casa da vizinha, estava recebendo da menina. Ela era a novidade, o mais novo bebê da casa. Só que com o passar dos dias, a Bolinha deixava de ser bebê, e também deixava de ser novidade. Então, em uma noite qualquer, a vizinha decidiu era hora da Bolinha começar a dormir na sua própria casa.

Naquela noite, a vizinha colocou a Bolinha para fora de casa para dormir lá, e foi dormir, naturalmente. Só que a Bolinha ficou indignada com isso, e para demonstrar, latia e uivava, arrastando as patinhas sobre a porta como se fosse possível escavar para abrir.

Sem entender o por que, que de uma hora para a outra, deixava de merecer dormir na casa que os demais dormiam, pensava não ser mais parte daquela que considerava a sua nova família/matilha.

Na casa que havia herdado de sua mãe, a Pérola, ela não entrava de jeito nenhum. Ficava sentadinha na porta da casa da vizinha, chorando uma melodia de quem estava mesmo chateada. Teimosa, chorava até cansar e quando cansava dormia ao relento, no pátio.


A menina escutava o choro com angústia demais para não fazer nada a respeito, precisava novamente fazer alguma coisa. Mas sempre que questionava em trazer a cachorrinha para dentro da sua casa, sua mãe discursava calmamente, novamente todas as regras. Argumentava ainda que é normal um cachorrinho chorar nos primeiros dias que precisa dormir sozinho, mas que logo ela ia se acostumar, e que a menina deveria aprender que não é certo se meter na educação dos outros.


Mesmo assim, em outra noite, uma que chovia e estava frio, a menina não se conteve. Esperou que as luzes das casas se apagassem, esperou mais um pouco até que todos dormissem, e em seguida, cuidadosamente iniciou seu plano secreto: Com meias nos pés para não fazer barulho, a passos leves, buscou e encontrou a chave da casa. Com o mesmo profissionalismo, saiu da casa sem fazer nenhum ruído.

Desobedecer sua mãe era uma decisão extremamente difícil e arriscada. Ela sabia que ficaria encrencada, mas agora que já estava com as meias sujas, iria até o final. Seguiu caminhando até o pátio, onde teve a colaboração instantânea da cachorrinha, que foi andando de encontro com a menina sem fazer nenhum barulhinho sequer.

Eram cúmplices. E voltaram imperceptíveis para a casa da menina. Que a levou até o seu quarto. A Bolinha ficou extasiada com o quarto da menina. Era rosa e tinha cobertores fofinhos e coloridos, parecia que estava sobre uma nuvem. Só que melhor! Era fechado, quente, seguro. Ficou tão feliz, que se rolava de um lado para o outro sem parar, abria aquela boca cheia de dentes como se tivesse sorrindo, como se estivesse imitando a menina que também ria muito com a bagunça. Estavam juntas, podiam ser crianças, bobas, brincar. E brincaram tanto, que uma hora a Bolinha capotou em sono, de tão cansada. Um sono que a menina nunca tinha visto igual, profundo e tranquilo. Atirada de lado, com a pancinha pra cima, sem se preocupar com o desarrumar das orelhas, com as perninhas cruzadas da maneira que caíram, e ainda sim tão elegante com sua feminilidade, era uma fofura! Suas bochechas ficavam moles e caídas, parecendo até que tinham descolado do rosto. Aquilo era paz.

Aquilo era um momento de paz, de felicidade, que a menina simplesmente adorava, não queria que tivesse fim. Mesmo sabendo que estava procurando encrenca. Era um momento que a menina não podia negar para a Bolinha, nem negar para si mesma. Decidiu aproveitar e prometeu que faria tudo que estivesse ao seu alcance para fazer a vida da Bolinha melhor, mesmo que para isso fosse preciso descumprir uma regra. Estava decidida, mas também estava culpada, e só conseguiu dormir depois de amanhecer, depois que levou de volta a Bolinha para fora, e teve a certeza de que o seu plano tinha sido um plano bem-sucedido.

E foi. Só que a partir daí, o mesmo plano passou a se repetir por muitas noites seguintes. E conforme o plano se repetia, a menina aprendia a relaxar e principalmente a curtir a companhia de sua amiga. A Bolinha também aprendeu coisas novas, como ser uma boa menina dentro de casa, como não fazer barulho nem mexer no que não devia. Apenas ficavam as duas, as vezes brincando, as vezes cada uma em seu canto, mas juntas, unidas, perto. E conforme o tempo passava mais amigas elas ficavam, e mais felizes também. Estavam felizes e sabiam disso, aproveitavam.

Foi quando a menina descobriu: Que a felicidade é apenas um ponto de vista, e tanto é, que em uma dessas inúmeras noites, sua mãe foi ver como a menina estava dormindo, e as duas foram vistas juntas. E para a sua mãe, como também para a dona da Bolinha, elas não estavam fazendo algo certo, e sim desobedecendo.

A brincadeira acabou. As duas foram separadas, e ficaram de castigo.


***


Capítulo 4: Todo dia pode ser o início de uma nova vida.


Logo depois do acontecido, sua mãe sentou em uma das cadeiras da cozinha e chamou a menina para que sentasse em outra próxima dela. Nesse momento, a menina já sabia que estava com problemas. Estava de castigo, e não podia sequer argumentar a seu favor, afinal, tinha consciência da sua desobediência e estava pronta para pagar o preço.

Arrependida ela não estava, nenhum pouquinho, mas estava nervosa. Afinal, cada passinho que se aproximava daquela cadeira era também cada passo que se aproximava da sua sentença. Mas antes do veredito final, ela ainda precisava escutar uma lição. O que ela achou bem conveniente, já que assim ganhava mais tempo para rezar ao seu favor...

Sua mãe lhe falava novamente sobre respeito, discurso que ela já conhecia bem. Continuou explicando oficialmente o significado da palavra posse: Dizendo que "coisas", tipo, qualquer-coisa, pode ter um dono. Disse que existem coisas que são de todos, como o ar, a terra, o mar...e que pode até existir algumas-coisas que ainda não tenham um dono, mas que isso hoje em dia era algo muito raro. E que a menina, para que não arrumasse mais problemas, precisava começar a se perguntar se algo já tem um dono antes de pegar para si.

A menina ouvia atenta, se perguntando como sua mãe acabou acreditando nas palavras que dizia. Estranhava principalmente o fato de animais serem considerados coisas e pensar que a menina tivesse a intenção de possuir algo, sendo que ela só queria ajudar….enfim, só lhe restava pensar, não conseguia espaço para dizer nada já que a mãe seguiu explicando que a Bolinha já tinha uma dona, e que a dona da cachorrinha não era ela, a menina, mas sim a vizinha da menina. E completou orientando que a menina obedeça essa nova regra de agora em diante, que ela era ainda muito nova para entender algumas coisas mas que ao passar dos anos ela entenderia.

A menina perguntou se ela também era uma coisa, e quem era a dona dela.

Sua mãe riu, e abraçando ela bem forte falou: _Você é minha, meu amor!

Depois de algumas brincadeiras vieram as risadas, a mãe então aproveitou a ocasião para informar também para a menina que casa que eles moravam também não era de posse deles, era uma dessas-coisas, e que por não serem os donos daquela casa teriam que se mudar dali.

A menina bem que imaginou que não escutaria coisas agradáveis, mas não imaginava o tamanho da gravidade. E como se já tivesse esquecido de tudo que ouviu a segundos atrás, começou a perguntar incansavelmente se poderia levar a Bolinha junto nesse novo lugar para onde iriam se mudar e viver dali em diante.

Mas a resposta nós todos já sabemos: Não!

Afinal a Bolinha não era dela.

Pensou consigo mesma: Em algum momento da história, as pessoas simplesmente colocaram o poder, o orgulho, a ganância, acima do que realmente precisamos para ser feliz, acima do amor! E agora, por conta disso, o destino dela e da Bolinha estava comprometido. Pela primeira vez ela sentiu a projeção de seu futuro se abrir em uma bifurcação, e para piorar, ela sabia que provavelmente iria para o caminho que não desejava. Sentiu como o seu mundo escorresse sobre suas mãos.

O que lhe trouxe de volta para a terra, foi lembrar que além de tudo isso, ainda sabia que se não fosse ela própria, a menina, que (pelo menos) explicasse algo para a Bolinha sobre tudo o que estava acontecendo com elas, e o que viria a acontecer, ninguém mais explicaria. Aliás, ninguém mais sequer sabia como conversar com ela. Somente a menina. Estufou o peito com ares de responsabilidade e foi de encontro a sua amiga.

Demorou até ela conseguir reunir a coragem e as palavras necessárias para explicar para aquela fofura-preta a situação. E quando chegou o momento, se via sendo interrompida continuamente pela sua mãe que empacotava, encaixotada e empilhada os pertences da família em caixas no carro que faria o transporte. Ela estava tão preocupada com a mudança que não pôde perceber a grandiosidade que aquele momento tinha para a menina, e simplesmente pegou a menina em seu colo, e empilhou com os demais pertences no carro, encaixando em um espaço que restava.

A menina, levada pela urgência e emoção do momento, espontaneamente resumiu seu discurso em uma promessa:

“_Eu voltarei para te buscar Bolinha.”



***

Capítulo 5: A vida não tem um sentido, tem muitos.
Faça valer a pena!


Alguns minutos depois de chegarem a nova casa, que era poucas quadras da antiga, a menina pensou ter exagerado um pouco na emoção ao se despedir da cachorrinha-da-vizinha. Foi um drama, mas foi sincero: A menina não queria e não estava gostando nenhum pouco da separação.

Ainda por cima, nessa casa nova animais não eram permitidos, o que era muito conveniente para a sua mãe, e péssimo para ela. Mas como era próxima da casa-antiga, que ficava ainda no meio do caminho da sua escola, não era o fim do mundo. Ainda era possível se encontrar com a Bolinha e até brincar com ela um pouco, já que podia entrar na casa-antiga sem que se ouvisse nenhum barulho ou latido.

A menina fez disso uma rotina. E numa dessas manhãs, acredite se puder, a menina ouviu uma conversa da antiga vizinha e descobriu que a cachorrinha iria para adoção, devido ao seu mau comportamento. Segundo o discurso da vizinha, a cachorrinha nunca parava quieta, era muito agitada, mordia a tudo e todos, além de fazer muito barulho a noite. Ainda por cima ouviu que já havia inclusive um interessado que viria até lá conhecer a Bolinha naquela tarde.

A menina sem pensar muito apenas pegou a cachorra em seu colo e saiu correndo dali. A cachorra tanto não latiu nenhuma vez como também não realizou nenhum movimento. Da maneira como foi pega, ficou. Com as bochechas jogadas sobre a cara e uma calma que era espantosa para a menina, que estava a mil. Seu coração pulava e ela não sabia para onde ir, apenas apertava o animal em seus braços sentindo o calor do seu corpinho, que respirava tranquilamente e lhe encorajava a seguir adiante. Só não sabia para onde, em sua casa sua mãe a impediria. Na escola também. Tudo que restava era um terreno alí perto, que foi pra onde ela foi.

Soltou a cachorrinha que olhava para ela e só queria brincar. A menina percebeu que ela queria o mesmo, e saiu correndo com um dos seus tênis em sua mão de um lado para o outro, rindo e chamando a Bolinha para pegar.

A menina jogava o tênis longe e a Bolinha buscava, ela jogava de novo e a Bolinha buscava de novo, a Bolinha mordia o tênis da menina que tentava arrancar da sua boca. A Bolinha mordia com força mas a menina além de força usava estratégias para conseguir tirar o tênis da boca da Bolinha, e quando conseguia, comemorava, pegava novamente o tênis e corria de um lado para o outro e tudo recomeçava.

E se repetiu tantas vezes foram necessárias para as duas ficarem exaustas e o sol cair. Quando o final do dia chegou foi que a menina se lembrou que precisava resolver algumas questões importantes.

Primeira questão era conseguir vestir o tênis que usou na brincadeira, estava detonado. E ainda ia precisaria explicar isso à sua mãe, que já ia ficar irritada e não deixaria a cachorrinha ficar de maneira nenhuma. Era ai que vinha a segunda questão e a mais importante. Os destinos dela e da Bolinha daquele momento em diante.

A Bolinha estava cansada, sentadinha, olhando para a menina. Que para demonstrar parceria, sentou ao seu lado dela para que conversassem com calma.

Enquanto pensava no que dizer, se perguntava se estava preparada para deixá-la ir, não apenas daquele lugar, mas também da sua vida. Sentia-se além de triste, a pior pessoa do mundo, sentia-se má e confusa. Seu desejo era dar o mundo para aquele animalzinho, um lar, uma família, uma vida.

Começou seu discurso dizendo que a partir daquele instante uma nova vida começava, assim como muitas novas vidas que se iniciam todos os dias e que provavelmente nessa nova vida seus destinos não se cruzariam mais. Continuou se explicando e se desculpando por não ser capaz de proporcionar essa nova vida para a Bolinha e enquanto discursava suas palavras já sem crédito nenhum, viu que, talvez pelo cansaço, ou talvez pela alegria do dia, ou simplesmente por se apenas uma cachorrinha, a Bolinha parecia que não estava entendendo nada e muito menos se preocupando em entender. Ela simplesmente desfrutava do presente na mesma maneira quando brincavam, deitada já com o tédio daquele papo.

Quem estava incomodada era a menina, que se sentia sozinha e injustiçada por não ter materializado a sua vontade. A Bolinha estava feliz. Mesmo sozinha, mesmo sem dono, mesmo sem rumo. Para ela, o dia de amanhã era muito mais desconhecido, e muito menos importante, bem como a sua solidão.

Dizem que os cachorros amadurecem mais rápido que os humanos. A Bolinha estava pronta para o futuro. Quem não estava pronta ainda era a menina. Que entendendo isso então respirou fundo, e se sentindo mais calma parou de chorar e reclamar, para começar a agradecer. Agradecia pelos momentos felizes que viveram juntas, pelas lembranças boas que conquistaram e pelos ensinamentos como esse que acabava de receber, pelo dia maravilhoso que passaram juntas e pela companhia que desfrutava naquele instante.

Pegou novamente a Bolinha em seus braços, e com todo carinho que podia oferecer a levou de volta para a casa-da-vizinha, a deixou no mesmo lugar, e do mesmo jeito como havia pego. Em seguida, foi também para a sua casa. No dia seguinte, ao passar pela casa-da-vizinha, viu que a Bolinha não estava mais lá. Foi difícil. Mas sempre que lembrava do semblante da cachorrinha naquele final de tarde entendia que as coisas as vezes são como são, que é preciso seguir em frente, com alegria!

Não houve sequer um dia sem que a menina não lembrasse de sua amiga: Imaginava onde, como, e com quem ela poderia estar, e se estaria feliz. Elas não ficaram juntas no final, mas ficou um pouco de menina na Bolinha, e um pouco de Bolinha na menina. Seus destinos nunca mais se cruzaram, mas suas histórias permanecem conectadas até hoje, e assim será para sempre.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016


"amar é muito mais simples do que parece,
amar, é compartilhar uma noticia boa, sem medo e sem culpa,
e se tornar até inconveniente
rindo a toa
quando se deve ser sério
é tipo, como sonhar que se pode voar
estar acima das leis da natureza, da lógica, do tempo
e deixar de se importar um pouco com isso
é ter a conversa mais longa da história...
e responder sim, sempre que a dúvida vier se meter nessa conversa,
amar, é discutir sobre tudo,
conhecer uma nova opiniao, entender um novo ponto de vista
é ensinar e aprender,
e aceitar."